Europa, Primavera de 1901.

Variantes - As diferenças da versão da Grow

Apresentação

A Avalon-Hill é a fabricante do Diplomacia atualmente. Aqui no Brasil o jogo foi vendido com o título 1914 - O Jogo da Diplomacia pela Grow. Foi aliás o segundo jogo que eles fabricaram, sendo o primeiro o clássico War, versão brasileira do Risk (também da Avalon-Hill). Só que a versão brasileira do querido "jogo de intriga internacional" veio com algumas alterações em relação ao jogo oficial. Em especial, pequenas (mas profundas) alterações no mapa, alteração das forças iniciais italianas e alguns detalhes nas regras. De certa forma, ao juntar todos estes fatores, temos uma variante do jogo original. Continuo jogando ignorando as modificações, mas vale a pena comentar um pouco já que é uma maneira saudável de avaliar algumas estratégias comuns no jogo regular.

É melhor listar logo as modificações. Aqui estão:
    Mapa:
        Novo centro de abastecimento no Norte da África (Naf) , totalizando agora 35 centros então;
        Desaparecimento do contato que a província de Clyde (Cly) tem com o Mar da Noruega (NWG);
        Surgimento de um estranho trecho de mar sem nome entre a Dinamarca (Den), Kiel (Kie), Berlim (Ber),o Mar Báltico (BAL) e a Suécia (Swe);
        A Finlândia (Fin) não é uma província russa;
    Regras:
        As fases de movimentação se chamam Verão e Inverno;
        Alguns jogadores interpretam que é possível a movimentação terrestre por Gibraltar ligando a África do Norte (Naf) à Espanha (Spa);
    Posição inicial:
        A Itália começa com uma frota em Roma (Rom) ao invés de uma armada, como na variante Frota em Roma.

Por uma Itália menos ordinária

Pois bem, agora a Itália têm uma frota extra e mais um centro neutro ao seu alcance em 1902. Claramente as modificações feitas ao sul tinham o intuito de melhorar um pouco a mal afamada posição italiana no início do jogo que para tantos jogadores aparenta ser sem futuro, fraca e difícil. E todos tem um pouco de razão: ou a Itália ataca imediatamente a Áustria ou inicia o Lepanto. Em ambos os casos, é obrigada a tomar a Túnisia (Tun), seu centro neutro de direito, e viver sob a ameaça de um ataque austríaco em 1901 e um francês dois anos depois. Com isso compromete uma unidade sempre estacionada próximo de Veneza (Ven) e Piemonte (Pie) e tem uma unidade na Tunísia (Tun), uma região distante da ação.

O Lepanto e um possível ataque a França serão lentos e não se completarão antes de 1903, deixando a Itália na desconfortável posição de se defender contra as ameaças externas e ver pelo menos um de seus vizinhos crescendo com força enquanto ela aguarda. Mas claro que além de tudo isso temos a parte da diplomacia italiana. O contra-peso aqui é que várias nações adorariam a ajuda italiana contra algum vizinho. Em especial temos a poderosa aliança italo-russa contra a Áustria e depois a Turquia. Portanto há bastante emoção para a Itália no jogo regular.

As modificações no entanto colocam um novo equilíbrio no cenário, e pelo menos a minha análise é de que beneficiam as rivais marítimas da Itália mais do que a própria. A Turquia deixa de ser um alvo final interessante para um Lepanto. Agora há um novo centro aguardando e menos uma armada para ser transportada para as terras do Sultão. No final das contas, a Itália acaba se integrando mais com o grupo ocidental, e é uma ameaça a normalmente calma posição francesa. No jogo regular, uma frota italiana além da linha Tunísia-Napoles (Tun-Nap) é quase uma declaração de guerra contra a França. Agora sempre teremos um grave conflito de interesses pela Ibéria e pelo norte da África. Estes problemas novos para a França trazem um alívio para a Inglaterra. Assim as duas potências que já são conhecidas pelas dificuldades de serem enfrentadas ganham ainda mais defensivamente.

O mapa dos mares do norte

A alteração da saída de Clyde (Cly) para o Mar da Noruega (NWG) é um tanto mais sutil. Pode parecer que pouco muda o cenário, já que a região é pouco usada em um jogo regular. Mas é um risco a menos para as frotas que trabalham na defesa ou no ataque a uma das províncias mais importantes do mapa, o Mar do Norte (NTH). Afinal, antes era possível deslocar uma unidade mal apoiada no Mar da Noruega (NWG), mas como fazer isso agora? Além disso, é uma modificação em um dos cantos do mapa, zona sensível para a Inglaterra se ela for colocada sob ataque por trás. Raro, porém devastador.

Já o estranho Mar Sem-Nome... este é sem dúvida um motivo de problemas. Se seguirmos a regra ao pé da letra, "toda a província sem nome é impassável". Assim, não há como move uma frota de Kiel (Kie) para o Mar Báltico (BAL) e vice-versa, comprometendo em muito a locomoção alemã e tornando a Dinamarca (Den) em uma pequena fortaleza separando os mares. Mas ainda há o caso de má interpretação, abrindo várias possibilidades: este espaço é uma continuação da Baía de Helgoland (HEL), fazendo com que seja possível ir direto de Berlim (Ber) para a beirada do Mar do Norte (NTH) em um único turno; este espaço é parte da Dinamarca (Den), então é possível ir de Berlim (Ber) para a Dinamarca (Den) em um turno; e outras possíveis interpretações.

Estas imprecisões trazem um novo perfil para a situação em torno do Mar do Norte (NTH), o que sem dúvida tende a tornar o equilíbrio na Escandinávia entre Alemanha, Inglaterra e Rússia menos sensível aos desejos alemães, além de tornar mais difícil uma guerra naval entre Berlim e Moscou.

Detalhes cosméticos ou fortes mudanças?

E afinal, estas mudanças são apenas detalhes ou mudam bastante o jogo? Com a excessão da mudança do nome dos turnos (ofensivas de inverno na Europa? No mínimo estranho, mas...), todas as mudanças trazem um novo equilíbrio nas regiões afetadas. Em especial o estranho espaço no norte da Alemanha e os novos caminhos italianos. Alguns irão argumentar que isso na verdade destrói o equilíbrio do jogo, e é verdade que apesar da Itália parecer estar mais forte, isso foi ao custo de minar a força francesa e fortalecer bem mais a Turquia e a Inglaterra. Porém o equilíbrio ainda está lá. Pessoalmente acho que na verdade o jogo italiano ficou ainda mais enfadonho, já que ao quase inevitável conflito com a Áustria soma-se o desgaste entre a França e a Itália e o fim das possibilidades de blefe com o Lepanto. Novas estratégias de sobrevivência precisam ser imaginadas por Paris.

Alguns argumentarão que a França já têm uma posição defensiva bem forte e portanto estes novos empecilhos trazem um melhor equilíbrio ao ocidente. A única modificação que realmente complicaria a vida francesa é a interpretação de que é possível cruzar Gibraltar com armadas. Outros dirão que o espaço sem nome estraga um cenário perfeito de equilíbrio. Pessoalmente continuo preferindo o jogo regular. Não sou dos jogadores que ressente a aparente fraqueza italiana e acredito que apesar da França gozar de muitas vantagens o aparente desequilíbrio sempre existirá. Cada potência tem uma outra força para aproveitar, e o equilíbrio é sempre frágil o bastante para permitir que um jogador inconstante fortaleça muito algum dos seus vizinhos por mais modificações que sejam feitas.

Como variante seria mais interessante usar apenas as modificações do Norte da África (Naf) e a frota em Roma (Rom) já que as outras modificações mais parecem defeitos do que mudanças pensadas.

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Autor: D. Moret R.

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